Remodelação óssea peri-implantar e longevidade do Sistema Arcsys
Ao concluir uma reabilitação sobre implantes dentários, o profissional deverá não apenas se preocupar com o resultado imediato, mas também com a manutenção a longo prazo para que os fatores atrelados ao sucesso perdurem ao longo do tempo1. Ocorre que a partir do momento em que a restauração é suportada no implante/componente protético, este conjunto começa a sofrer as adversidades inerentes ao meio bucal assim como um dente natural, inclusive com remodelação tecidual ao seu redor2.
Vários fatores são considerados como responsáveis pela perda óssea peri-implantar, como distância entre implantes3,4, carga mecânica oclusal excessiva5,6, movimentação do componente protético quando em função (micromovimentação)7 e espaço (microgap) na interface entre o implante e componente protético8,9.
Especificamente sobre os dois últimos fatores, ambos parecem contribuir concomitantemente durante a função mastigatória, pois a movimentação supostamente provém um “bombeamento” de fluídos entre o interior e exterior do implante dentário10. Junto a este fluído, trânsito bacteriano é esperado, junto a suas endotoxinas relacionadas ao processo inflamatório regulador da perda óssea peri-implantar2.
É esperado que o restabelecimento do espaço biológico do sistema implante-restauração ocorrerá de maneira semelhante a um dente natural11. Porém é desejável que esteja relacionado a tão somente a linha de cimentação ou contato entre a prótese e o componente protético. No entanto, a partir do momento em que há nicho bacteriano na interface entre este e o implante, a remodelação partirá deste nível e consequentemente incidirá em perda óssea vertical ao redor do próprio implante.
Há consenso que uma remodelação óssea ocorre principalmente no primeiro ano após carregamento (entre 1,0mm e 1,5mm12,13,14), sendo portanto o período mais crítico de acompanhamento após conclusão da reabilitação. Além, percebe-se que a existência de um “gap” entre o implante e o componente protético influencia diretamente nesta perda de osso peri-implantar15, principalmente nos primeiros 03 meses após implantação8. Também, o tamanho deste “gap” não foi considerado significante quando encontra-se entre 10µm e 100µm8, logo, sua mera existência neste intervalo parece ser suficiente para contribuir negativamente.
Por conseguinte, é imensamente sugerido que o cirurgião-dentista opte por um sistema que proporcione melhor estabilidade do tecido ósseo peri-implantar como, por exemplo, implantes com plataforma “cone morse” essencialmente friccionais. Estes têm demonstrado maior eficiência na vedação bacteriana na interface entre implante e componente protético, supostamente pelo menor “gap” apresentado entre tais superfícies após ativação (0,5 – 1,5µm16,17) em comparação a demais conexões, onde estes “gaps” podem chegar a 100µm.8,18
Ao eleger esta conexão, o profissional contribui de sobremaneira na manutenção dos tecidos peri-implantares e consequentemente na longevidade da homeostasia de suas reabilitações sobre implante.
AUTOR: Prof. Dr. Rafael Cury Cecato.
REFERÊNCIAS
- Silva CR, Filho HG, Goiato MC. Perda óssea em prótese sobre implante: revisão de literatura. Rev. Odontológica Araçatuba. 2011;32(1):32–36.
- Insua A, Monje A, Wang HL, Miron RJ. Basis of bone metabolism around dental implants during osseointegration and peri-implant bone loss. J. Biomed. Mater. Res. – Part A. 2017;105(7):2075–2089.
- Schuldt Filho G, Dalago HR, Souza JGO De, Stanley K, Jovanovic S, Bianchini MA. Prevalence of peri-implantitis in patients with implant-supported fixed prostheses. Quintessence Int. 2014;45(10):861–8.
- Novaes AB, Oliveira RR de, Muglia VA, Papalexiou V, Taba M. The Effects of Interimplant Distances on Papilla Formation and Crestal Resorption in Implants With a Morse Cone Connection and a Platform Switch: A Histomorphometric Study in Dogs. J. Periodontol. 2006;77(11):1839–1849.
- Tawil G. Peri-implant bone loss caused by occlusal overload: repair of the peri-implant defect following correction of the traumatic occlusion. A case report. Int. J. Oral Maxillofac. Implants. 2008;23(1):153–157.
- Lin D, Li Q, Li W, Duckmanton N, Swain M. Mandibular bone remodeling induced by dental implant. J. Biomech. 2010;43(2):287–293.
- Abrahamsson I. The mucosal barrier following abutment dis/reconnection An experimental study in dogs. J. Clin. Periodontol. 1997 Aug 1;24(8):568–572.
- Hermann JS, Schoolfield JD, Schenk RK, Buser D, Cochran DL. Influence of the Size of the Microgap on Crestal Bone Changes Around Titanium Implants. A Histometric Evaluation of Unloaded Non-Submerged Implants in the Canine Mandible. J. Periodontol. 2001;72(10):1372–1383.
- Piattelli A, Vrespa G, Petrone G, Iezzi G, Annibali S, Scarano A. Role of the microgap between implant and abutment: a retrospective histologic evaluation in monkeys. J. Periodontol. 2003;74(3):346–352.
- Ujiie Y, Todescan R, Davies JE. Peri-implant crestal bone loss: A putative mechanism. Int. J. Dent. 2012;(May 2014).
- Canullo L, Cocchetto R, Loi I. Remodelagem Óssea Peri-implantar: Bases Científicas e Implicações clínicas. 1a ed. 2012.
- Albrektsson T, Zarb G, Worthington P, Eriksson AR. The long-term efficacy of currently used dental implants: a review and proposed criteria of success. Int. J. Oral Maxillofac. Implants. 1986;1(1):11–25.
- Rasouli Ghahroudi A, Talaeepour A, Mesgarzadeh A, Rokn A, Khorsand A, Mesgarzadeh N, et al. Radiographic Vertical Bone Loss Evaluation around Dental Implants Following One Year of Functional Loading. J. Dent. (Tehran). 2010;7(2):89–97.
- Adell R. A 15-year study of osseointegrated implants in the treatment of the edentulous jaw. Int. J. Oral Surg. 1981 Dec;10(6):387–416.
- Baixe S, Tenenbaum H, Etienne O. Pénétration microbienne dans la connectique pilier-implant: revue de littérature. Rev. Stomatol. Chir. Maxillofac. Chir. Orale. 2016 Feb;117(1):20–25.
- Dibart S, Warbington M, Su MF, Skobe Z. In vitro evaluation of the implant-abutment bacterial seal: the locking taper system. Int. J. Oral Maxillofac. Implants. 2005;20(5):732–737.
- Pappalardo S, Milazzo I, Nicoletti G, Baglio O, Blandino G, Scalini L, et al. Dental implants with locking taper connection versus screwed connection: microbiologic and scanning electron microscope study. Int. J. Immunopathol. Pharmacol. 2007 Jan;20(1 Suppl 1):13–7.
- Mangano FG, Colombo M, Mangano C. Clinical Evaluation of 762 Single-Tooth, Locking-Taper Implants: A Prospective Study with 1- to 12-Years of Follow-Up. J. Dent. Oral Care Med. 2016;2(2):1–11.